RESENHA: ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA

   Ensaio sobre a cegueira é um romance de José Saramago, escrito em 1995, que posteriormente recebeu o prêmio Nobel da Literatura em 1998.

    Nunca havia lido nada do Saramago, até pelo valor da obra que é c a r í s s i m o, rs. Mas tive a oportunidade de ler emprestado e aqui estou...
    Vou começar a resenha com uma definição do próprio autor:
    "Este é um livro francamente terrível com o qual eu quero que o leitor sofra tanto como eu sofri ao escrevê-lo."
   Já deu para imaginar a tensão embutida na trama ? Pois é, adianto que não se trata de cada absurdamente sentimental, que arrancara lágrimas. Definitivamente não. Eis uma obra de apelo reflexivo, com aspectos apreensivos e agonizantes.
    Ensaio sobre a Cegueira divide opiniões. Uns amam, outros detestam. As principais características que tornam esse livro um misto de amor e ódio, vem por parte, pelo tipo de escrita adotada pelo autor e outra pela oposição.

 Escrita: Ele mistura discurso direto com o indireto, dispensando recursos como parágrafo, travessão e aspas. O discurso direto fica entre vírgulas e para não confundir o leitor ele usa letras maiúsculas para diferenciá-lo do indireto. Em primeiro momento causa-se uma estranheza, mas, sem duvidas a leitura melhora conforme vamos nos acostumando com o 'diferente'.
    Ahh, além da escrita sem pontuação, Saramago nos afasta dos personagens, por não identifica-los por seus nomes. Conhecemos os percursores da trama, através de adjetivos selecionados pelo autor. Talvez, seja esse o pequeno detalhe que distancie o leitor da estória e faz com que a emoção não se sobressalte em lagrimas e sim, na indignação e garganta travada.
Oposição: Saramago era comunista, portanto, para os defensores do capitalismo suas obras nada mais são que apologia ao sistema comunista. Não possuo excelência no tema, e dificilmente consigo identificar mensagens "subliminares" em obras de ficção, porém, segundo estudiosos (e capitalistas), as obras do autor contam com apelos ao capitalismo, neoliberalismo e comunismo disfarçados na forma de alegorias.

Quanto a premissa:
    Em uma cidade sem nome, num farol qualquer. Um homem no volante, aguardando o sinal verde, perde a visão. No ápice do desespero, grita e pede socorro sem saber a quem, pois não enxerga nada ao redor. Surge nesse momento o primeiro paciente - doente da nova cegueira. Essa doença que posteriormente se tornará uma pandemia, não possui explicação para ser, pois, médico nenhum encontra respostas para a epidemia crescente, com isso, não se descobre prevenção e tão pouco tratamento.
     A forma que o Governo encontrou de minimizar o "contagio" foi isolando os infectados.
     A principal questão é que a doença se propaga a cada dia e as condições sociais e humanas tornam-se precárias. Dessa forma observamos a que nível podemos chegar em busca de sobrevivência. Como o a moral se confunde com a ética e a maneira como cada individuo reage a situações de pressão.
    O psicológico dos personagens também é pauta. Uns lutam pela vida e pelo bem comum, enquanto outros tropeçam e correm por cima de seus semelhantes.

   Esse é um daqueles livros que permanecerá na melhoria por muitos e muitos anos. Novas historias surgiram, mas a mensagem de Ensaio sobre a cegueira continuara perturbadoramente intacta. Até porque, quando Saramago escreve, o universo se dobra a ele.

"(...) Sentiu-se infeliz, desgraçado, amparando as calças que roçavam no chão nojento, cego, cego, cego, e, sem poder dominar-se, começou a chorar silenciosamente. (...) sabia que estava sujo, sujo como não se lembrava de ter estado alguma vez na vida. Há muitas maneiras de tornar-se um animal, pensou, esta é só a primeira delas."
 
NOTA: * * * *

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